A chave do sucesso da Shopee reside em sua extensa rede de parceiros, impulsionando lucros significativos no comércio eletrônico

A SPX Express, uma rede de entregas operada por vizinhos e pontos de coleta menores, acelera a transformação da Sea Ltd., empresa responsável pelo aplic…

16/08/2025 9:24

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Na competição mundial do comércio eletrônico, liderada por empresas como Amazon, Shein, Temu e TikTok Shop, um operador de cor laranja fluorescente detém a maior parte do mercado no Sudeste Asiático: a Shopee. O aplicativo, controlado pela Sea Ltd., com sede em Singapura, tornou-se um fenômeno regional ao priorizar a logística de proximidade, realizada de fato pela comunidade.

O desempenho obteve um impacto notável no mercado. A partir de janeiro de 2024, as ações da Sea avançaram mais de 300% na Bolsa de Nova York, elevando o valor de mercado da empresa a aproximadamente US$ 100 bilhões. Trinta e três dos 41 analistas que monitoram a companhia pela Bloomberg indicam recomendação de compra.

SPX Express: o segredo

No centro da estratégia está a SPX Express, braço logístico que surgiu em segredo e atualmente trata bilhões de encomendas anualmente. Diferente das operações intensivas da Amazon ou da dependência da TikTok Shop da J&T Express, a Shopee desenvolveu uma rede ramificada: mulheres casadas, aposentados e pequenos comerciantes convertidos em entregadores ou pontos de coleta.

Em Singapura, é frequente encontrar um “tio” de chinelos transportando sacolas da Ikea repletas de caixas ou uma moradora que montou um espaço improvisado para entrega ao lado do elevador. Essa logística de bairro diminuiu os custos, agilizou as entregas e aproximou a marca do dia a dia dos consumidores.

A rede se expandiu: já são mais de 3.500 pontos de coleta somente em Singapura, incluindo salas de estar convertidas em miniagências. Na Indonésia, operam em *warungs* (pequenas lojas de bairro). Em Taiwan, em convenções. No Brasil, a rede também cresce.

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Da crise, à virada

O salto não parecia óbvio em 2021. A pandemia havia inflado a demanda, mas os gargalos de entrega sufocavam a operação. A Sea, então, decidiu arriscar quase US$ 1 bilhão para erguer sua própria infraestrutura. No curto prazo, a decisão pesou: a companhia perdeu 90% do valor de mercado em meio ao crash das techs globais e precisou cortar 7.000 empregos.

A aposta gerou resultados positivos. Em 2024, a SPX representava 25% do mercado logístico do Sudeste Asiático, conforme dados da Momentum Works. Atualmente, em Singapura, 90% dos pedidos são entregues no dia seguinte; na região, metade chega em até dois dias.

Um negócio que se transforma em comunidade

Para muitos, o trabalho se tornou uma fonte de renda adicional – embora limitada. Em Singapura, os entregadores recebem, em média, 0,50 dólar de Singapura por encomenda (US$ 0,37). Algumas pessoas conseguem organizar até 80 entregas por dia, o que é suficiente para cobrir parte das despesas semanais. No entanto, o impacto vai além do dinheiro: a SPX estabeleceu laços sociais em áreas densas, com entregadores relatando novas amizades e uma sensação de pertencimento.

O “toque humano” tornou-se um diferencial competitivo, segundo analistas. “A visibilidade do laranja da Shopee, combinada à proximidade com os moradores, reforça a presença da marca no cotidiano local”, avalia Jianggan Li, da Momentum Works na Bloomberg.

O que está por vir

O modelo, contudo, não está isento de tensões. Prefeituras em Singapura reclamam do emprego de áreas comuns para triagem de encomendas, e a estrutura de remuneração é criticada por se aproximar de “bicos” temporários. Ademais, embora a SPX tenha ultrapassado brevemente a J&T em volume, suas margens ainda são estreitas.

Apesar disso, a Shopee se firmou como parte integrante da região. E, para os investidores, a razão é evidente: quanto mais a empresa conseguir transformar vizinhos em parceiros logísticos, mais resistente será frente a concorrentes como a TikTok Shop, que gasta muito dinheiro para ganhar espaço.

Em agosto, a Sea deve anunciar uma receita recorde de US$ 5 bilhões, com o e-commerce representando 72% desse valor e a logística ganhando importância crescente.

A trajetória da Shopee demonstra que, no comércio eletrônico, não é suficiente possuir uma plataforma digital robusta. É necessário repensar também a logística física dos produtos – mesmo que isso implique na entrega de encomendas na casa do vizinho.

Fonte por: InfoMoney

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