Brasil e países árabes buscam novas parcerias comerciais após aumento de impostos nos EUA

A pesquisa apresenta os volumes de importação desses produtos pelos países árabes, identificando os principais países árabes importadores e possíveis de…

10/08/2025 10:24

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Os países árabes buscam adquirir mais produtos brasileiros como opção em relação aos Estados Unidos. Uma pesquisa conduzida pela Câmara de Comércio Árabe-Brasileira, divulgada exclusivamente ao Broadcast Agro (sistema de notícias em tempo real do Grupo Estado), identificou os itens mais impactados pela tarifa de 50% que começou a vigorar na data de ontem (6).

A pesquisa apresenta os volumes de importação desses produtos pelos países árabes, os principais países árabes importadores e potenciais destinos substitutos na exportação. As oportunidades se concentram principalmente na comercialização de produtos do agronegócio brasileiro aos 22 países da Liga Árabe.

Após a tarifação, o Brasil registra recorde de exportações para o Canadá no primeiro semestre de 2025.

O estudo diagnosticou 13 produtos, dos principais exportados pelo Brasil para os Estados Unidos nos últimos cinco anos, que poderiam ser exportados ou ter suas vendas ampliadas para o mercado árabe. A Câmara Árabe propõe três países promissores para a importação de cada um desses itens brasileiros.

O café verde apresenta grande potencial de exportação para os países árabes. Em 2024, o Brasil exportou US$ 513,83 milhões em café não torrado para o mercado árabe, com vendas totais de US$ 1,896 bilhão para os Estados Unidos. A Câmara aponta potencial de expansão das vendas de café verde para Arábia Saudita, Kuwait e Argélia. No caso da Arábia Saudita, dos US$ 400 milhões importados em 2024 de café pelo país, apenas US$ 49,12 milhões foram provenientes do Brasil, indicando espaço para o aumento da participação brasileira.

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Egito, Emirados Árabes Unidos e Arábia Saudita podem aumentar as compras de proteína brasileira. Do total de US$ 927,12 milhões importados de carne bovina pelo Egito em 2024, apenas US$ 273,07 milhões são da proteína brasileira. No último ano, o Brasil exportou US$ 1.211 bilhões de carne bovina para os países árabes, em comparação com US$ 885 milhões exportados aos Estados Unidos.

Existem produtos exportados do Brasil para os Estados Unidos que ainda não são vendidos aos países árabes e com potencial de pequena absorção, como os produtos semimanufaturados de ferro e aço e madeira de coníferas. Escavadeiras, angledozers, carregadeiras e pás carregadeiras são itens com importação elevada pelos países árabes, porém com exportação incipiente do Brasil, ou seja, com espaço para crescimento das vendas brasileiras ao mercado árabe.

No caso do café não torrado, ele pode chegar aos países árabes sem tarifa, enquanto os Estados Unidos cobram 50% sobre o produto brasileiro. Na carne bovina congelada, as alíquotas árabes variam de zero a 6%, ante os 50% do mercado norte-americano. O açúcar chega no mercado árabe com tarifa de zero a 20% ante 50% cobrados pelos EUA. Produtos semimanufaturados de ferro e aço estão sujeitos à alíquota de 50% dos Estados Unidos, enquanto no mercado árabe a taxa varia de zero a 12%. Petróleo refinado, que está entre os principais produtos exportados do Brasil aos EUA, tem tarifa de 50% para entrar no mercado americano em comparação com 5% de cobrança nos países da Liga Árabe, aponta o estudo.

Os dois objetivos, conforme a câmara, são reduzir os efeitos da nova tarifa americana (sobretaxa de 40% acrescida da alíquota de 10% em vigor desde 5 de abril) e fortalecer a cooperação comercial entre o Brasil e os países árabes. Para alcançar esses resultados, a câmara analisou os 20 principais produtos exportados pelo Brasil para os Estados Unidos, os principais destinos de consumo desses itens no mercado árabe e a análise tarifária, considerando apenas os produtos sujeitos à alíquota completa de 50% e não excetuados.

A Câmara Árabe avalia o aumento da procura por produtos brasileiros com redução tarifária, com taxas que variam de zero a 30%, e considera que a escalada tarifária dos Estados Unidos pode representar oportunidades para redirecionar e ampliar os fluxos comerciais das exportações brasileiras. “Os países árabes têm crescimento populacional e econômico acima da média mundial, têm população jovem e o Brasil é um importante provedor para a segurança alimentar de lá”, observa Mohamad Mourad, secretário-geral da Câmara. Para ele, o mercado árabe deve, portanto, estar nas prioridades das empresas e do governo nas estratégias de redirecionamento dos produtos que deixarão de ser exportados aos Estados Unidos.

Mourad não estima o valor que poderia ser redirecionado aos países árabes, mas parte pode ser absorvida pelo mercado árabe ainda este ano. O estudo aponta para o crescimento gradual do comércio, embora em alguns produtos possa haver demanda imediata. Carne bovina e café são produtos com potencial de rápida colocação nos países árabes, podendo colher resultados rápidos, embora 100% do que seria exportado aos Estados Unidos seja absorvido, conforme avalia o setor produtivo e as empresas.

História

Em 2024, o Brasil alcançou o recorde de exportações para os países árabes, atingindo US$ 23,68 bilhões, com superávit de US$ 13,50 bilhões. Emirados Árabes Unidos, Egito e Arábia Saudita figuram entre os principais destinos das importações de produtos nacionais. A previsão para este ano é de manutenção ou leve crescimento nas vendas externas para a Liga Árabe.

Produtos do agronegócio representam a maior parte da pauta de exportações do Brasil para o bloco, respondendo por 76% dos embarques no último ano. Os produtos mais comercializados para o mercado árabe são açúcar, frango, minério de ferro, milho e outros cereais, além de carne bovina. O estudo revela que o Brasil é o principal fornecedor de gado, carne suína, carne de frango, milho, soja em grãos, amendoim, gordura de bovino, ceras vegetais, açúcar, suco de laranja congelado, tabaco bruto, minério de ferro, minério de alumínio, celulose, ferro gusa bruto (utilizado para produção de aço) e resíduos de estanho (empregado na fabricação de ligas metálicas) para o mercado árabe.

A Câmara destaca que existe complementaridade na pauta comercial do Brasil com países árabes, além de alíquotas menores em uma gama de produtos. O País importa principalmente do mercado árabe petróleo e fertilizantes e exporta commodities agrícolas e alimentos. “É preciso levar a ideia do Brasil como um fornecedor confiável, com menor custo-benefício e respeita a importância do mundo árabe”.

Plano de trabalho

A Câmara Árabe sugere ao governo brasileiro um conjunto de medidas para impulsionar as exportações brasileiras aos países árabes. Essas ações são divididas em três áreas: sensibilização, diversificação do comércio e facilitação.

O plano contempla ações coordenadas entre a Câmara Árabe, empresas brasileiras e o governo brasileiro para otimizar o direcionamento de fluxos comerciais e identificar oportunidades de crescimento. As principais áreas abrangem a promoção comercial de produtos com alta atratividade tarifária e demanda no mercado árabe, o apoio à adaptação de empresas brasileiras às exigências locais (como a certificação halal) e o fortalecimento de acordos comerciais e diplomáticos. Sugerem-se medidas como a facilitação de vistos de negócios para empresários brasileiros e árabes para países como Arábia Saudita, Argélia, Catar e Kuwait, bem como a organização de missões comerciais e a atração de investimento nos países árabes e islâmicos.

A Câmara Árabe destaca a necessidade de o Mercosul concluir acordos de livre comércio com países árabes. Há negociações em curso com Tunísia, Marrocos, Jordânia, Líbano e com o Conselho de Cooperação do Golfo. Como exemplo, a câmara menciona o acordo comercial entre Egito e Mercosul, assinado em 2010. “Desde então, as exportações brasileiras para o Egito quase dobraram”, afirmou Mourad. Atualmente, as tratativas mais avançadas estão com os Emirados Árabes Unidos.

Na avaliação de Mourad, tanto os países árabes quanto o Brasil devem aproveitar o bom momento das relações entre o governo brasileiro e o mercado árabe. “O governo sabe trabalhar muito bem essa região, enxerga o peso econômico e o potencial de consumo e respeita a importância do mundo árabe”.

Fonte por: InfoMoney

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