Empresas convertem seus colaboradores em influenciadores

Em contrapartida, os colaboradores recebem reconhecimento, além de presentes, viagens e valores financeiros.

17/08/2025 9:30

5 min de leitura

Compartilham a rotina, os bastidores de campanhas e até divulgam produtos ou serviços. Contudo, não são famosos com milhões de seguidores e, sim, funcionários que têm ganhado destaque nas redes. Observando essa tendência, empresas têm investido em transformar seus colaboradores em influenciadores da marca. Em troca, eles recebem desde reconhecimento, brindes, viagens e até dinheiro.

A Chilli Beans iniciou recentemente a publicação de desafios de conteúdo nas redes sociais. No primeiro, mais de 300 funcionários se inscreveram. Os dez primeiros receberam prêmios em dinheiro, kits de influenciador e um curso sobre criação de conteúdo. Um desses funcionários influenciadores é Lucas Zanin, de 21 anos, vendedor de uma franquia da marca.

Iniciei as postagens devido à divulgação da marca e noto que isso aproxima as pessoas. Elas sentem vontade de conhecer a loja e acabam vindo até aqui.

Dri Elias, CEO da CoCreators, acredita que o movimento conhecido como Employee Generated Content (EGC) expandiu-se, sobretudo, após a pandemia. Contudo, não todos os funcionários possuem o perfil para serem “criadores”.

Leia também:

Cada empresa possui suas políticas. Realizamos uma curadoria técnica com base no perfil e na qualidade do conteúdo. Se o usuário publica excessivamente conteúdo político, não é aceito.

Modelo aprovado

A CVC representa um caso de sucesso da CoCreators, tendo recebido 600 inscrições e formado uma equipe com 48 talentos. O conteúdo produzido por essa equipe gerou um aumento de até 67% no alcance e engajamento. Uma das participantes, Janaína Souza, supervisora da loja CVC Manaus (AM), afirma:

A funcionária relata que, no programa, são produzidos vídeos curtos com dicas de viagem, trends e promoções, para divulgação no Instagram e no TikTok. A receptividade do público tem sido muito positiva, com alto engajamento e retorno animador.

O professor de Administração da ESPM, Eduardo Halpern, considera que a experiência é benéfica para as empresas, elevando sua reputação perante o consumidor.

Acredito que o cliente se sente mais confiante ao interagir com alguém real. Frequentemente, temos a impressão de que a opinião de um influenciador famoso pode ser paga, pensando: “Será que ele não está recebendo um cachê para dizer isso?”

De gestores a profissionais da gasolina.

Dri Elias afirma que a iniciativa iniciou com profissionais em posições de liderança, mas atualmente existem criadores de conteúdo da marca desempenhando diferentes funções. Paloma Paiva, com 45 anos, é diretora de Marketing da empresa de cosméticos Farmasi. Nas redes sociais, onde promove a marca, é reconhecida como a “Diva da Farmasi”. Além de influenciadora ativa, ela auxilia no desenvolvimento de outros colaboradores da empresa.

Auxilio na seleção de conteúdos, na análise do perfil de cada profissional e no estímulo ao seu desenvolvimento na criação de materiais.

Nos Postos Petrobras da Vibra, frentistas, gerentes e atendentes são responsáveis pela produção de conteúdo. A empresa afirma que esses profissionais são os mais indicados para abordar temas relacionados a combustíveis ou o programa de fidelidade.

A Motiva Aeroportos, a partir de 2023, promove a divulgação de seus serviços, responde a dúvidas e compartilha orientações de segurança nas redes sociais. Essa estratégia tem surtido efeito, com o número de seguidores no Instagram aumentando de 12 mil para mais de 70 mil, e a taxa de engajamento subindo de 0,2% para 3%.

A figura do embaixador na história.

Além de influenciadores, algumas empresas transformam seus colaboradores em embaixadores da marca. O Programa Influencer Nestlé, criado em 2022, surgiu com o objetivo de demonstrar que a Nestlé é um bom ambiente de trabalho e evoluiu para formar embaixadores. Atualmente, mais de 1.500 colaboradores participam, incluindo funcionários de fábricas, escritórios, centros de distribuição e promotores de vendas.

A Americanas também possui embaixadores. Estes criam conteúdos, que variam de demonstrações e orientações sobre o uso de produtos a campanhas institucionais. Um deles é Rayanne Abreu, de 23 anos, que iniciou a produção de conteúdo quando estava em período de estágio.

Recebemos capacitação e materiais para auxiliar na criação de conteúdo. Quando há vídeos, eles fornecem um briefing explicando a ação, mas sempre deixando bastante liberdade. Está sendo muito positivo. Penso em desenvolver bastante nesta área. Contudo, como represento a Americanas, é preciso ter atenção constante.

Empresas precisam lidar com riscos.

Elcio Teixeira, CEO da Heach RH, acredita que converter colaboradores em influenciadores pode gerar benefícios significativos em termos de engajamento e autenticidade. Contudo, destaca que existem riscos a serem controlados, como a exposição exagerada da vida pessoal e conflitos de imagem decorrentes de polêmicas ou discordâncias de opinião. Na maioria das organizações, a participação nesses programas é voluntária. Teixeira argumenta que isso deve ser explicitado.

É aconselhável que a empresa apresente os benefícios, mas também deixe evidente que não há obrigações. Adicionalmente, é importante criar canais de feedback anônimos para que eventuais incômodos possam ser relatados sem constrangimento.

Ao assumir responsabilidades adicionais, como representar a empresa nas redes sociais, um colaborador está gerando valor além do escopo original do seu cargo. Por isso, Teixeira avalia:

É válido considerar uma compensação extra, seja financeira, em forma de benefícios, viagens, brindes ou outras experiências de reconhecimento.

Fonte por: InfoMoney

Autor(a):