A alta da Selic para 15% ao ano e a inflação persistente acima do teto da meta estão reconfigurando o cenário para a gestão financeira das pequenas e médias empresas (PMEs) no Brasil. De acordo com Vivian Sesto, sócia e head comercial da XP Empresas, o momento demanda que empreendedores implementem práticas mais eficientes e estratégicas para salvaguardar a saúde financeira de seus negócios, considerando um ambiente com custo do capital elevado e incertezas fiscais e geopolíticas.
Vivian adverte que a taxa de juros efetiva no Brasil se aproxima de 10%, um dos níveis mais elevados desde o início do plano Real, o que aumenta a prudência dos bancos na concessão de crédito e torna o financiamento para empresas mais caro. “O caixa é a fortaleza de qualquer negócio. Sem estratégia, até operações com resultados positivos podem perder oportunidades ou se expor a riscos desnecessários”, declara.
Cenário difícil
O cenário é ainda mais desafiador para as PMEs, que representam 90% dos 24 milhões de CNPJs ativos no país e faturam menos de R$ 100 milhões ao ano. “É preciso trazer para dentro dessas empresas as boas práticas das companhias de capital aberto”, reforça Vivian, lembrando que a maioria ainda negligencia políticas estruturadas de investimento e reserva.
Ademais da pressão da política monetária, a proximidade das eleições brasileiras e o estilo de liderança do presidente norte-americano Donald Trump intensificam a volatilidade cambial, gerando mais um elemento de incerteza para empresas que dependem de importações ou exportações.
Empresas com resultados positivos e negativos necessitam de estratégias diferenciadas
Conforme Vivian aponta, empresas com resultados positivos tendem a ter o caixa imobilizado, sem estabelecer estratégias adequadas de alocação. A sugestão, nesses casos, é distinguir o que é caixa operacional – destinado à movimentação da empresa – do que pode ser investido no médio e longo prazo, considerando opções como a operação comprometida, que representa um investimento livre de IOF e potencializa o retorno no caixa de curto prazo das empresas.
LEIA TAMBÉM!
Para empresas com dificuldades financeiras, a recomendação é implementar um controle rigoroso do fluxo de caixa, analisar entradas e saídas, receitas e despesas, juntamente com um planejamento preventivo para enfrentar períodos de sazonalidade. Um outro ponto fundamental é manter uma reserva mínima de três a seis meses de custos fixos para assegurar proteção em situações de instabilidade.
Vivian relata que, em suas apresentações pela XP Empresas, ela detalha um roteiro para a organização de políticas de caixa. Isso abrange desde a determinação de metas de retorno para o caixa da empresa até a elaboração de ferramentas de controle e o envolvimento na gestão financeira.
O alinhamento societário também é fundamental, na sua visão, para que todos contribuam para a margem financeira do negócio e apoiem decisões estratégicas da empresa, sobretudo em um cenário de Selic elevada que deverá permanecer em dígitos altos nos próximos anos.
Inflação contínua intensifica a pressão sobre o custo do capital
O aviso de Vivian reflete os últimos dados do IBGE e do Banco Central. Em julho, a inflação oficial (IPCA) aumentou 0,26%, acumulando alta de 5,23% em 12 meses – acima do teto da meta de 4,5%. A energia elétrica, impactada pela bandeira tarifária vermelha e reajustes regionais, foi o principal fator da elevação, ao passo que alimentos mais baratos contribuíram para amainar o índice.
Apesar de uma leve melhora nas previsões, o Boletim Focus indica que 2025 encergará com inflação de 5,05%, ainda superior ao limite estabelecido pelo Conselho Monetário Nacional. Trata-se do sexto mês consecutivo em que o IPCA permanece acima do teto, o que demanda ações do Banco.
A Central oferece explicações formais ao Ministério da Fazenda
Para combater a inflação, o Comitê de Política Monetária mantém a Selic em 15% ao ano, com chance de nova elevação se o cenário externo – sobretudo a política comercial dos Estados Unidos – pressionar os preços internos. A taxa elevada, contudo, torna o crédito mais caro e restringe investimentos, gerando um desafio para empresários que precisam decidir sobre o uso do capital disponível.
Nesse contexto, a gestão estratégica de caixa se torna não apenas uma ferramenta de proteção, mas também de competitividade. “O custo de oportunidade hoje precisa ser
A análise é feita com rigor. Não se trata apenas de poupar dinheiro, mas de assegurar que cada real esteja no devido lugar e que o caixa contribua para o sucesso do negócio”, afirma Vivian.
Assessoria de investimentos ganha relevância no suporte às pequenas e médias empresas
Diante da complexidade do cenário econômico, Vivian defende que pequenas e médias empresas busquem apoio especializado. “O assessor de investimentos é quem realmente entende as nuances do mercado e pode ajudar o empreendedor a tomar decisões baseadas em dados e não apenas em intuição”, explica.
A organização detalhada possibilita que as empresas explorem chances, inclusive em períodos de taxas de juros elevadas, através da seleção de investimentos que combatam a inflação e produzam lucro líquido.
Vivian defende que pequenos e médios empreendedores adotem práticas de governança, gestão de riscos e análise de viabilidade econômica, frequentemente utilizadas em grandes empresas listadas na bolsa. Isso envolve estabelecer políticas para o reinvestimento de lucros, diversificar investimentos e definir metas financeiras de longo prazo.
Não é o momento de agir no escuro. É hora de ter orientação, mapa e um líder experiente para conduzir o negócio, conclui.
Fonte por: InfoMoney