A Inteligência Artificial e o Potencial de uma Nova Bolha
A crescente importância da inteligência artificial (IA) nos mercados financeiros e na economia global tem gerado debates acalorados. Muitos analistas e comentaristas, como Ruchir Sharma, do Financial Times, apontam para um cenário de risco, comparando a situação atual com a bolha da internet dos anos 90.
No entanto, uma análise mais aprofundada sugere que, apesar das preocupações, as condições econômicas e financeiras atuais se assemelham mais a 1998, um período anterior à aceleração final da bolha da internet.
Semelhanças com a Bolha da Internet de 1998
A situação atual apresenta paralelos com o cenário de 1998, marcado por um “stress” nos mercados de crédito e no setor bancário americano. A regulamentação bancária, intensificada após a crise de 2008 e a falência da Lehman Brothers, levou ao surgimento do “private credit”, um sistema de crédito intermediado fora do sistema bancário tradicional.
Esse modelo, com um volume estimado de US$ 3 trilhões, impulsionado por investidores institucionais como fundos de pensão e family offices, utiliza instrumentos como “Business Development Companies” (BDCs) e é facilitado por bancos como Jeffries e UBS.
Essa dinâmica ecoa as características do “shadow banking” que contribuiu para a crise de 2008.
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A Falência da First Brand e a Crise de Liquidez
Um exemplo recente que ilustra essa situação é a falência da empresa de acessórios de carros First Brand, que declarou a perda de US$ 2,3 bilhões devido a uma crise de liquidez. A empresa, que vendia recebíveis ao mercado, contou com o investimento do fundo Point Bonita e da gestão do banco Jeffries.
A complexidade da estrutura de dívidas, distribuída entre diversos fundos e bancos, como UBS, evidenciou os riscos associados a essa forma de crédito. A demissão do CEO e as investigações criminais subsequentes reforçaram a gravidade da situação.
Análise do Mercado Acionário e da Política Monetária
Apesar das preocupações, o mercado acionário americano não apresenta uma exposição significativa a esses setores de risco, dada a concentração da temática da IA. A decisão do Federal Reserve (Fed) de cortar a taxa de juros pela segunda vez e o fim do quantitative tightening (QT) – a redução do tamanho do balanço de títulos do Fed – foram ofuscadas por uma postura mais cautelosa do Fed, liderada por Powell, que sinalizou a incerteza sobre futuras reduções na taxa de juros.
As demissões em massa na Amazon e UPS, relacionadas à adoção da IA, reforçam a perspectiva de uma política monetária mais flexível.
Comparação com 1998 e a Perspectiva de uma Bolha
A situação se assemelha a 1998, quando o Fed cortou juros devido à crise na Rússia e à quase-quebra do fundo LTCM. Esses eventos, embora não relacionados diretamente à internet, impulsionaram os ganhos da bolha de 1999. Além disso, os líderes da atual bolha tecnológica mantêm fluxos de caixa positivos, apesar dos investimentos em IA, com exceção da Oracle.
Uma análise do JP Morgan revela que a posição financeira do setor corporativo permanece positiva, diferente do cenário da bolha da internet. A exposição dos investidores globais ao mercado acionário ainda está abaixo dos picos de 1999, mais próxima dos níveis de 1998.
Conclusão: Uma Bolha Tecnológica com Riscos Contained
Em resumo, a situação atual pode ser considerada uma bolha tecnológica. Diferente da bolha imobiliária de 2008, não há níveis excessivos de alavancagem nos setores mais próximos à IA ou na economia como um todo. As condições financeiras estão se afrouxando, com chances concretas de o Fed retomar o quantitative easing (QE) em 2026.
As valuations são altas, mas não irracionais. Portanto, a situação se assemelha mais a 1998, oferecendo uma perspectiva mais cautelosa e com riscos contidos.
