Índice acumula alta de 0,32% em janeiro, elevando a inflação acumulada nos últimos 12 meses. Especialistas alertam para a necessidade de prudência

Os alimentos seguem reduzindo a inflação oficial do país, porém, os serviços permanecem em níveis altos; a expectativa de cortes na taxa de juros se man…

12/08/2025 11:16

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A divulgação do IPCA de julho, realizada nesta terça-feira pelo IBGE, manteve o padrão das anteriores: a variação do índice oficial de inflação ficou inferior à estimada pelo mercado, impulsionada por alimentos e pela valorização do real em relação ao dólar. Contudo, embora esteja desacelerando, o índice acumulado em 12 meses ainda se mantém acima da meta desejada pelo Banco Central, com os preços dos serviços e os núcleos ainda pesando. Dessa forma, persiste entre os economistas a sugestão de um Copom prudente e de manutenção da taxa de juros.

Em julho, o índice apresentou variação de 0,26%, inferior às expectativas do mercado e de algumas instituições financeiras, que projetavam um IPCA de até 0,36% em relação a junho. No acumulado de 12 meses, o índice de inflação caiu de 5,35% para 5,23%, ainda distante da meta de 3% ao ano estabelecida pelo Banco Central.

Os maiores declínios ocorreram nos segmentos de Alimentos e Bebidas (-0,27%) e Vestuário (-0,54%), enquanto as pressões de alta apresentaram uma redução de 0,54%.

Já as pressões de alta estiveram concentradas em Habitação (+0,91%), com os preços do grupo puxados pelos reajustes de energia elétrica de várias capitais; e de Despesas Pessoais e Transportes (0,76% e 0,35%), nesses casos puxados pelo reajuste das loterias e pela alta das passagens aéreas na alta temporada.

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Para André Valério, economista sênior do Inter, o resultado de julho representou uma surpresa positiva e, ainda que o dado atual tenha pouca influência no curto prazo, proporcionará mais tranquilidade para o Copom nas próximas reuniões.

Em agosto, se espera uma deflação do índice, influenciada pelo bônus da Itaipu, o que contribuirá para manter a atual tendência de desaceleração da inflação. Contudo, o início do ciclo de cortes ainda depende de uma sinalização mais clara de que a política monetária restritiva está impactando a atividade real.

Adicionalmente, afirmou que existem indícios claros de acomodação da atividade econômica e no crédito, o que deve resultar em um crescimento mais modesto do PIB no segundo trimestre. “Nossa expectativa é que o Copom inicie o ciclo de cortes na reunião de dezembro, com um corte inicial de 50 pontos base.”

Indústrias versus serviços

Ao analisar a média de núcleos de inflação, Leonardo Costa, economista do ASA, observou que o resultado foi mista, com piora qualitativa nos serviços. “A inflação de bens industrializados também tem surpreendido para baixo, provavelmente efeito da valorização do câmbio em 2025. Por outro lado, os serviços mantêm-se em patamar elevado, com desaceleração mais modesta na comparação da média móvel de 3 meses (6,1% em julho).”

Igor Cadilhac, economista do PicPay, corroborou essa perspectiva, ao ressaltar que, com exceção dos serviços, todas as demais medidas apresentaram-se superiores às projeções. “Entretanto, considerando que os serviços subjacentes constituem uma das principais métricas qualitativas, o resultado deve ser interpretado com cautela. Persistimos na avaliação de que ainda é necessária uma política monetária restritiva, com a Selic mantida em 15% até o final do ano”, recomendou.

O PicPay mantém a projeção de inflação de 5,1% em 2025 e continua observando um balanço de riscos equilibrado, com efeitos líquidos desinflacionários da guerra tarifária. “O câmbio permanece relativamente estável e as expectativas vêm melhorando consistentemente. Além disso, os dados atuais indicam uma dinâmica mais positiva. Apesar disso, o cenário permanece significativamente pressionado”, alertou Cadilhac.

Gustavo Rostelato, economista da Armor Capital, observou que a composição do IPCA manteve a dicotomia recente: enquanto bens industriais e alimentação domiciliaram contribuíram com deflação, serviços e itens subjacentes permaneceram em níveis elevados. “Ainda assim, a média dos núcleos ficou em 0,26%, abaixo das projeções. Em linhas gerais, o resultado traz algum alívio para o Copom, mas ainda evidencia pressões nas categorias inerciais”.

Modéstia

Gustavo Sung, economista-chefe da Suno Research, acredita que a convergência da inflação para a meta ainda exige cautela e solidez do Banco Central. “A ata da última reunião do Comitê de Política Monetária registrou revisões negativas em relação às projeções do mercado, porém a inflação de serviços permanece alta e os núcleos permanecem acima do patamar adequado à meta, indicando pressão de demanda e a necessidade de manter a política monetária restritiva por um período extenso”, declarou.

De acordo com Claudia Moreno, economista do C6 Bank, os dados do IPCA de junho e julho indicaram um certo resfriamento da inflação, embora ela tenha alertado que tal movimento é passageiro.

Apesar da redução nos preços das commodities e do enfraquecimento do dólar poderem estar amenizando a pressão sobre os alimentos e os bens industriais, elementos internos, como o mercado de trabalho aquecido e uma possível desvalorização da moeda, conforme nossa projeção, devem persistir no impulso à inflação no Brasil.

A projeção do banco indica que o IPCA deve finalizar o ano de 2025 em 5% e concluir 2026 em 5,7%. Os números do IPCA não alteram nossa expectativa de que o Comitê de Política Monetária deve manter as taxas de juros estáveis nos próximos meses. Nossa projeção é de que a Selic permaneça em patamar elevado por bastante tempo, mantendo-se em 15% até o final de 2026.

Fonte por: InfoMoney

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