Mercado em Reflexão: Incerteza e Oportunidades
O movimento global de alta das bolsas de valores perdeu força, com investidores adotando uma postura mais cautelosa diante da incerteza sobre a trajetória do Federal Reserve. Novos dados de atividade econômica mais fracos, somados à correção nas ações da Palantir após questionamentos sobre seu valuation, contribuíram para essa mudança de cenário.
O S&P 500 fechou em leve alta no pregão anterior, mas os contratos futuros do índice e do Nasdaq recuaram nesta manhã, refletindo um movimento natural de realização de lucros após a recente valorização.
Anúncio de Acordo Amazon-OpenAI e Impacto na IA
O anúncio de um acordo de US$ 38 bilhões entre Amazon e OpenAI, com a AWS fornecendo centenas de milhares de GPUs Nvidia para os data centers da Amazon, alimentou o entusiasmo em torno da inteligência artificial. Esse acordo garante à criadora do ChatGPT acesso a uma infraestrutura robusta, impulsionando o Nasdaq e suavizando o mau humor do restante do mercado.
A temporada de resultados, com empresas como AMD, Super Micro, Pfizer e Uber, pode reforçar esse apetite por risco.
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Desafios Macroeconômicos e a Paralisação do Governo nos EUA
A paralisação do governo nos Estados Unidos suspendeu parte dos dados oficiais, aumentando a importância de indicadores privados para a leitura da economia. Pesquisas do próprio Federal Reserve apontam que o crédito não tem sido um freio significativo à atividade, sugerindo que os cortes de juros têm caráter mais preventivo do que estimulativo.
Na Europa, os sinais recentes indicam recuperação gradual da atividade e melhora da confiança, preparando o terreno para um crescimento mais firme em 2026.
Ibovespa em Alta e Expectativas para o Mercado Brasileiro
No Brasil, o Ibovespa iniciou novembro em terreno positivo, registrando a nona alta consecutiva e o sexto recorde nominal seguido, ao encerrar o pregão pela primeira vez acima da marca dos 150 mil pontos. O ambiente segue favorável aos ativos locais, impulsionado pelo corte de juros nos EUA, pelo enfraquecimento do dólar e pela expectativa de uma temporada de resultados robusta, com destaque para Itaú e Petrobras.
A produção industrial do IBGE deve mostrar queda de 0,4% em setembro, reforçando os sinais de desaceleração da economia e mantendo vivo o cenário de primeiro corte da taxa Selic em janeiro de 2026.
Propostas Legislativas e o Cenário Fiscal Brasileiro
O Copom deve manter os juros em 15% nesta quarta-feira, sem acenos prematuros de afrouxamento. No campo fiscal e político, o Senado avançou com a proposta que amplia a faixa de isenção do IR para quem ganha até R$ 5 mil. O senador Renan Calheiros apresentou seu parecer com ajustes de redação, evitando que o texto volte à Câmara e garantindo condições para sanção até 31 de dezembro, com vigência a partir de 2026.
Para compensar o impacto estimado de R$ 4 bilhões, não previsto corretamente antes pelos deputados, Renan propôs um projeto paralelo que eleva a tributação sobre “bets”, bancos e fintechs, com arrecadação prevista de quase R$ 5 bilhões em 2026 e cerca de R$ 18 bilhões em três anos, retomando pontos da antiga MP alternativa ao IOF, que havia caducado.
Desafios e Oportunidades no Cenário Internacional
A Suprema Corte dos EUA inicia nesta semana a análise de um dos julgamentos econômicos mais relevantes dos últimos anos: o processo que definirá se Donald Trump ultrapassou seus limites constitucionais ao impor tarifas sobre produtos de mais de 100 países sem aprovação do Congresso.
Pequenas empresas afetadas pelos custos de importação, acompanhadas por 12 estados governados por democratas, contestaram as tarifas e obtiveram vitórias em tribunais inferiores – agora cabe à Suprema Corte dar a palavra final, em uma decisão que deve ser tomada com urgência.
Vendas de Veículos Elétricos na China e o Desempenho das Empresas
As vendas de veículos elétricos na China começaram a perder fôlego, levantando um sinal de alerta no maior mercado automotivo do planeta e pressionando especialmente a Tesla, que depende do país para aproximadamente 36% de suas entregas globais. Montadoras como NIO e XPeng registraram desempenho recorde em outubro, mas o quadro não é homogêneo: a Li Auto viu suas vendas despencarem 38% na comparação anual, e até mesmo a BYD, líder do setor, só apresentou crescimento graças ao aumento das exportações.
No mercado doméstico, suas vendas caíram 24%. A Tesla comercializou cerca de 438 mil veículos na China até setembro, queda de 5% em relação ao mesmo período de 2024. A perspectiva para os próximos trimestres tampouco é confortável.
Desempenho de Empresas como Apple e Nvidia
Apple e Nvidia demonstram que um desempenho enfraquecido na China não tem sido suficiente para impedir valorizações históricas em bolsa. As vendas da Apple na região vêm caindo em oito dos últimos nove trimestres, enquanto a Nvidia já acumula mais de US$ 500 bilhões em pedidos para suas GPUs Blackwell e Rubin – mesmo sem saber se poderá comercializá-las no país asiático.
No caso da Apple, o fenômeno reflete a força de sua marca, a alta fidelidade dos consumidores e a expansão contínua das receitas com Serviços, que compensam um ciclo de atualização de iPhones cada vez mais associado à idade dos aparelhos, e não às novidades tecnológicas.
A Nvidia, por sua vez, surfa o maior ciclo de investimento corporativo em inteligência artificial da história, impulsionado por gigantes globais com balanços sólidos e capacidade praticamente ilimitada de capex.
A Berkshire Hathaway encerrou o terceiro trimestre com a maior reserva de caixa de sua história — US$ 381 bilhões — após 12 trimestres consecutivos vendendo mais ações do que comprando. O movimento sinaliza uma postura cautelosa, não apenas em relação ao boom da inteligência artificial, mas também diante dos valuations elevados do mercado.
