O açaí pode transmitir a doença de Chagas? Compreenda o processo de transmissão
O açaí, mesmo após sua liberação na COP30, pode transmitir o Trypanosoma cruzi se não sofrer higienização adequada.
Após críticas, a organização da COP30 voltou atrás e decidiu liberar o açaí e o tucupi nos cardápios da conferência da ONU sobre mudanças climáticas, que será realizada em novembro, em Belém. A primeira versão do edital de contratação de operadores havia restringido o consumo desses alimentos típicos da região, alegando risco de contaminação por *Trypanosoma cruzi*, o parasita causador da doença de Chagas, quando não há pasteurização.
A remoção da fruta amazônica do evento causou grande impacto, visto que o açaí está intimamente ligado à identidade cultural e gastronômica do Pará. A exclusão se baseava em estudos que indicam o alimento como uma das principais vias de transmissão da doença.
Após pressão do governo, a açaí é incluída em cardápios oficiais do evento.
Como se dá a transmissão
A doença de Chagas, também conhecida como tripanossomíase americana, é causada pelo protozoário *Trypanosoma cruzi*. Tradicionalmente, a infecção ocorria pelo contato com as fezes do barbeiro, liberadas após a picada do inseto. Contudo, atualmente a forma mais comum de contágio no Brasil é a ingestão de alimentos contaminados.
O professor Odilson Silvestre, da Universidade Federal do Acre (Ufac), integrou um grupo de cientistas de 11 instituições que analisou 41 estudos publicados entre 1968 e 2018.
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O levantamento identificou 2.470 casos de doença de Chagas e 97 óbitos, sendo divulgado na revista *Clinical Infectious Diseases*, da Universidade de Oxford. O estudo apontou que a maioria das ocorrências se encontra na Amazônia, principalmente no Pará, com o açaí como principal fator de transmissão.
O estudo, na época divulgado, declarou que “anteriormente o problema era principalmente a picada do mosquito, atualmente é mais devido à ingestão de alimentos contaminados, em especial o açaí. Além disso, cana-de-açúcar, sucos e outros alimentos”.
Ele também destacou que a disseminação pelo inseto ainda é presente, mas que o principal estado que sofre com a doença é o Pará. “É importante que as pessoas entendam que o açaí pode conter sim o *Trypanosoma cruzi*, o protozoário que causa a doença. Há uma necessidade de o governo atuar nisso, treinando os vendedores de açaí para que eles façam o processamento adequado com um branqueamento”, afirmou o pesquisador, na época.
O branqueamento, técnica de higienização utilizada para eliminar microrganismos e assegurar a segurança do consumo, envolve aquecer o produto a 80 °C por 10 segundos e, subsequentemente, resfriá-lo antes do processamento.
Além de passar por outros produtos de higienização. Isso elimina toda a contaminação e destrói o “*Trypanosoma cruzi*”, tornando o açaí seguro para consumo, explicou Silvestre.
Sintomas e tratamento
A Secretaria de Saúde aponta como sinais importantes da fase aguda febre persistente, cefaleia, prostração severa, edema facial e periorbital, além de lesões que se assemelham a fúrculos nos sítios de picada de barbeiros.
Sem intervenção imediata, a enfermidade pode progredir para complicações crônicas, incluindo insuficiência cardíaca, megacólon e megaesôfago. O medicamento benznidazol é o principal indicado para pacientes na fase aguda e está disponível gratuitamente no SUS. Em alguns casos, pode ser utilizado o nifurtimox, também fornecido pelo sistema público de saúde.
Fonte por: InfoMoney