O valor do tempo no dinheiro
A realidade é que, como a maioria, eu não considerei suficientemente a questão de como usufruir da liberdade financeira após alcançá-la.
Passadas algumas semanas, não costumo ter dado notícias. Estive aproveitando as férias em companhia da família. Um período valioso, distante da agitação, próximo de quem amo.
Agora estou de volta, feliz em retomar a Empiricus 24/7 e compartilhar convosco algumas reflexões que este período me trouxe.
Durante a viagem para a Europa, tive a oportunidade de ler um livro que acompanhava minha lista há tempos: “Morra Sem Nada”, do autor americano Bill Perkins.
Baixei no Kindle e comecei a leitura ainda no aeroporto de Guarulhos. Confesso que iniciei com certo ceticismo, tendo em vista que escrevo com frequência sobre a importância de acumular patrimônio e alcançar a independência financeira.
A realidade é que, como a maioria das pessoas, eu não considerei muito como usufruir dessa independência após obtê-la.
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É precisamente aí que o livro de Perkins oferece uma percepção valiosa.
Ele evidencia o quanto desconsideramos dois aspectos cruciais da nossa trajetória financeira: a finitude da vida e o declínio inevitável da nossa capacidade física de vivê-la.
Reunimos, planejamos, projetamos. Contudo, pouco paramos para avaliar o custo de oportunidade de não viver o presente, especialmente considerando que ainda possuímos energia, saúde e curiosidade para experimentar.
Perkins apresenta um conceito interessante, denominado time bucketing: a noção de segmentar a vida em períodos de tempo (entre 20 e 30 anos, por exemplo) e determinar quais experiências são mais adequadas para cada fase.
Existem viagens que se adequam mais a pessoas de 35 anos do que a 65. Há aventuras que demandam esforço físico. Outras, que exigem sensibilidade emocional. E há oportunidades que, após fechadas, não se reabrem.
No mercado financeiro, discutimos constantemente o retorno sobre o investimento, conhecido como ROI. Contudo, raramente aplicamos esse tipo de análise em situações do dia a dia.
Talvez resida aí o maior prejuízo de investimento: dedicar toda uma vida sem obter os frutos das vivências.
A perspectiva de Perkins sobre herança também me impactou significativamente.
Para ele, a lógica de “deixar tudo para o final” é falha.
Seria o ideal realizar isso em vida.
Isso se aplica aos filhos, a quem você ama e, sobretudo, a você mesmo.
A razão é prática: um auxílio aos 30 anos tem impacto muito maior do que aos 60. Um presente dado hoje pode ser o motor de algo transformador – de uma carreira, de uma memória, de um vínculo.
Transforma-se, então, em transferência patrimonial. Fria. Mecânica. Quase contábil.
É evidente que isso demanda cautela. Não se trata de imprudência. Nem de desperdiçar o que demandou muitos anos para ser desenvolvido.
É, sim, sobre repensar o objetivo final da independência financeira.
Não se trata apenas de segurança. É sobre liberdade. E, acima de tudo, sobre experiência.
Será que você está se perguntando: “E se eu viver até os 95”?
Sim, esta é a pergunta padrão. Consideramos o acúmulo patrimonial e dedicamos tempo realizando os cálculos necessários para viabilizar uma velhice confortável.
O livro nos incita a refletir: “E se eu morrer aos 67 e não tivesse vivenciado nem um terço do que poderia”?
A possibilidade de uma vida intensa levar a dificuldades financeiras é real.
A possibilidade de uma vida mais curta e a morte carregada de remorso também se apresenta e pode ser ainda mais dolorosa.
Com o passar do tempo, o maior valor deixa de ser o dinheiro.
É o tempo bem aproveitado.
É a permissão de aceitar um convite surpresa.
Ter energia para brincar com os filhos sem se preocupar com o relógio.
É viver experiências que não se encaixam em planilhas, mas transformam tudo por dentro.
Fonte por: Empiricus