Para a Geração Z, “pequenos mimos” podem significar gastar todo o dinheiro planejado para o mês

No TikTok, muitos usuários compartilham vídeos exibindo suas recentes “compras de luxo”, frequentemente após obterem boas notas, realizar tarefas domést…

18/08/2025 7:54

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Naomi Barrales precisava de um atraso de 30 minutos no trem. Ela ainda tinha uma viagem de duas horas até sua casa em Nova Jersey. Para passar o tempo, decidiu se presentear com dois cookies veganos de bolo de aniversário.

Assim, tornou-se um hábito. Sempre que ocorria um dia positivo no trabalho — seja recebendo um elogio do chefe ou fazendo uma boa apresentação —, Barrales, aos 25 anos, assistente de marketing de uma grife, repetia a situação. Em seguida, adicionou um refrigerante Poppi de US$ 1,50 à sua lista de “mimos”. Mesmo quando a máquina do escritório estava desativada e exigia o pagamento dobrado na delicatessen próxima, ela não se importava. “Eu mereço”, dizia.

“É algo que eu posso ter sem pensar muito. Não preciso contar cada centavo”, afirmou Barrales.

Eles e diversos outros jovens da Geração Z adotaram a conhecida cultura do mimo — a prática de se permitir pequenos prazeres, como um café de US$ 12, um doce de US$ 5 ou até um chaveiro de US$ 30, para se recompensar ou realizar atos de autocuidado, mesmo que isso impacte o orçamento. Mais de cinquenta por cento declarou adquirir um “mimo” pelo menos uma vez por semana, conforme levantamento com quase mil jovens da faixa etária conduzido pelo Bank of America.

A prática de recorrer a pequenos prazeres para enfrentar momentos difíceis ou celebrar conquistas não é nova, porém ganhou força na cultura pop em 2011, em um episódio da série Parks and Recreation, onde personagens criam o lema: “Treat Yo Self”.

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A característica que define a Geração Z é a maneira como transformou o costume em fenômeno comunitário online. No TikTok, milhares compartilham vídeos mostrando seus “achatados”, seja após reprovação em uma prova, conclusão de tarefas domésticas ou apenas para exibir consumo. A hashtag “sweet little treat meme” já soma mais de 23 milhões de vídeos.

De acordo com o pesquisador Jason Dorsey, coautor do livro Zconomy, o fenômeno transformou-se em experiência coletiva que normaliza e até incentiva tais gastos. Em um cenário de preços elevados, mercado de trabalho instável e ambições como a compra de uma casa própria cada vez mais distantes, esses pequenos gastos proporcionam à Geração Z uma sensação passageira de controle.

“Se eu tivesse concluído meus estudos e não estivesse conseguindo espaço no mercado, também me daria um mimo”, declarou Gregory Stoller, professor da Universidade de Boston, que recebe dezenas de pedidos de aconselhamento profissional por semana.

Do prazer, não conta no vermelho.

A questão reside no fato de que, sem regulamentação, gastos pequenos podem comprometer as finanças. Após se presentear três vezes por semana, Barrales observou que sua fatura estava aproximadamente US$ 50 abaixo do habitual.

Inicialmente era inofensivo, pois eu pensava: “Ah, são US$ 6, não tem problema”. Mas vai somando, e aí começa a comprometer minhas finanças.

De acordo com uma pesquisa do Bank of America, 59% dos jovens que fazem compras por impulso relatam ter gasto mais do que pretendiam. Stoller explica que aplicativos de “compre agora, pague depois” e entregas imediatas amplificam esses impulsos.

Para alguns, os gastos aumentam rapidamente. Um croissant de US$ 3 pode se transformar em um ingresso de US$ 200 para um show ou suplementos de autocuidado de US$ 350, como ocorreu com Angelina Aileen, 23 anos.

Graduada da Universidade da Pensilvânia em 2023, transferiu-se para Nova York para exercer a função de analista financeira. Rapidamente se sentiu pressionada pelas exigências do emprego. Buscou aliviar o mau humor cortando o consumo de café, porém sem sucesso. Após uma influenciadora sugerir suplementos, optou por utilizá-los, mas em pouco tempo se arrependeu do investimento. Desistiu das assinaturas e passou a investir em pequenos prazeres, como manicure e massagem duas vezes por mês.

“Isso me deixa mais focada. Faz eu me sentir preparada para o dia”, declarou, atualmente gerente de desenvolvimento de produtos em uma empresa de beleza.

Alanis Castro-Pacheco se envolveu de maneira repentina com a cultura do presente. Em 2022, durante a graduação, conflitos com colegas de república a motivaram a adquirir uma guitarra elétrica e um amplificador por 500 dólares no cartão de crédito. Sentiu remorso rapidamente, mas o dinheiro de Natal e a satisfação em executar músicas como Californication auxiliaram a diminuir o impacto financeiro da aquisição. Atualmente, aos 22 anos, ela continua pagando aulas bimensais de violão, com custo de 75 dólares por sessão.

“Ainda hoje olho para baixo e penso: ‘Ok, preciso recuperar meu dinheiro’”, relatou.

A normalização dos miminhos

De acordo com Tony Park, proprietário da rede Angelina Bakery em Nova York, os jovens desempenharam um papel fundamental na expansão do negócio. Ele investe em produtos atraentes, como croissants gigantes com preço de US$ 30, e afirma que mais de metade dos 11 mil clientes que frequentam o estabelecimento semanalmente pertencem à Geração Z.

Eles podem não ter muito dinheiro disponível, mas gastam com experiências, afirmou.

Para a diretora do Bank of America, Holly O’Neill, quem segue a cultura de gastos excessivos deve ter um orçamento realista ou procurar alternativas viáveis, como utilizar livros de bibliotecas.

Naomi Barrales optou por incluir gastos ocasionais no seu planejamento financeiro. Ela destina 25 dólares a cada duas semanas do salário para essa finalidade.

Sim, ocasionalmente ultrapasso o orçamento, admitiu. No entanto, já que reconheço meu hábito, prefiro organizar minhas contas em torno dele.

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Fonte por: InfoMoney

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