Plano de Lula para a COP30 na Amazônia enfrenta risco de se transformar em caos logístico

O COP30 acontecerá em Belém, utilizando embarcações-hotel para receber os participantes; a decisão de Lula ressalta a relevância de apresentar a realida…

13/08/2025 19:13

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A cúpula climática das Nações Unidas, prevista para novembro no Brasil, enfrenta crescente risco de se tornar um fracasso devido a problemas logísticos.

Com menos de 100 dias do evento, o Brasil enfrenta críticas de países devido à falta de quartos de hotel e aos elevados custos de hospedagem em Belém, a cidade-sede selecionada por sua proximidade com a floresta, e não por sua infraestrutura turística. A secretaria brasileira da COP30, também conhecida como cúpula, adiou uma reunião agendada para quarta-feira para discutir as questões de hospedagem; uma nova data ainda não foi divulgada.

Em uma carta de 19 páginas, revisada pela Bloomberg News, enviada do Brasil a vários países membros da ONU participantes da COP30, os organizadores rejeitaram a proposta de alterar o local da cúpula. “Não haverá local alternativo, pois a COP30 não será transferida de Belém”, afirmou a carta, porque a cidade-sede “já possui um número suficiente de leitos para acomodar todos os participantes esperados”.

A carta continha respostas a 48 questões de diversas delegações nacionais presentes na cúpula, e quase metade delas abordava preocupações sobre o elevado custo e a escassez de hospedagens. Um representante da COP30 negou ter confirmado a carta.

Até 8 de agosto, os organizadores informaram que haviam identificado 53 mil leitos em Belém e regiões próximas: 14.547 em hotéis, 6.000 em dois navios de cruzeiro, 10.004 em aluguel de temporada por meio de imobiliárias e 22.452 pelo Airbnb. O governo declara que mais opções serão incluídas nas plataformas oficiais de reserva BNetwork e Qualitours.

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Os valores das hospedagens aumentaram significativamente, ultrapassando os de hotéis de luxo no Rio de Janeiro. Alugar o apartamento “Doce Lar” em Belém, recentemente listado no Booking.com para os 11 dias da cúpula climática, custaria impressionantes 1,4 milhão de reais (US$ 267.380). Um quarto com cama king-size e vista para o mar no icônico Copacabana Palace, no Rio, custaria 96.223 reais.

A preocupação aumenta com a possibilidade de que esses valores excluam nações mais vulneráveis. Foram assegurados pacotes especiais com tarifas reduzidas para delegações de pequenas ilhas e dos países mais pobres, grupos que representam mais de um terço dos membros da ONU. O governo brasileiro declarou que essas delegações receberão 15 quartos individuais com preços entre US$ 100 e US$ 200 por noite. Os demais países têm garantidos 10 quartos individuais por delegação, com preços entre US$ 200 e US$ 600.

O Brasil é uma democracia com economia de mercado, o que impõe limites às intervenções na rede hoteleira, propriedade privada e sites de intermediação de aluguel privado, escreveram os organizadores na carta.

As respostas do Brasil até então acalmaram os participantes. As preocupações logísticas têm cada vez mais dificultado o avanço nas negociações em curso sobre a pauta e ameaçam comprometer a visão original por trás da realização do evento em Belém – uma iniciativa voltada para envolver um grupo mais variado de atores, incluindo comunidades indígenas.

“Uma crise logística como essa é a antítese de uma COP do povo, uma COP inclusiva”, disse Claudio Angelo, coordenador de políticas internacionais do Observatório do Clima, uma coalizão da sociedade civil sobre o clima. “Esta COP corre o risco de ser a mais excludente da história da convenção climática da ONU.”

Críticos como Angelo advertem que os entraves logísticos podem comprometer a validade de quaisquer acordos firmados em Belém, sobretudo se impedirem a participação daqueles que não possuem recursos financeiros. Os organizadores consideram essa questão com seriedade. “Começamos a abordar a questão da acomodação justamente porque ela se tornou uma questão política”, declarou o presidente da COP30, André Corrêa do Lago, a jornalistas no início de agosto. “De fato, isso impacta as negociações. É inevitável.”

Os navios Costa Diadema e MSC Seaview serão utilizados como hotéis flutuantes ancorados no Porto de Outeiro, cada um acomodando aproximadamente 3.000 hóspedes. A dependência de embarcações localizadas a 20 quilómetros do local da COP gerou preocupações de que os participantes hospedados ali se tornem isolados devido aos deslocamentos. “A viagem não levará mais que 30 minutos”, escreveram os organizadores na carta.

O presidente brasileiro Luiz Inácio Lula da Silva optou por sediar a COP30 em uma cidade da Amazônia com infraestrutura inadequada, em vez de São Paulo e Rio, que costumam receber eventos de grande escala. Ele se mantém firme na decisão, resistindo a mudanças propostas.

Lula afirmou ter decidido realizar a COP em Belém para que as pessoas pudessem observar o que a Amazônia realmente é.

Diante de dificuldades de infraestrutura, o Brasil optou por antecipar a programação da COP30. A cúpula de líderes de dois dias, que reúne chefes de Estado nas negociações climáticas anuais, será realizada antes das negociações principais, que começam em 5 de novembro, possibilitando que as negociações oficiais iniciem em 11 de novembro. A expectativa é que isso reduza a pressão por adaptações para os chefes de Estado e suas equipes.

O capítulo do Pará da Associação Brasileira da Indústria de Hotéis está priorizando as delegações da COP e denuncia o que chama de campanha “escancarada” contra a realização da cúpula em Belém. O grupo oferece 535 quartos em hotéis cinco estrelas, com preços entre US$ 100 e US$ 300 por noite, e está incentivando os membros das delegações a compartilharem acomodações, segundo o presidente da associação, Tony Santiago.

Santiago percebeu que os hotéis em Belém elevaram as tarifas em média de três a quatro vezes, embora Corrêa do Lago tenha apontado uma média de 10 a 15 vezes. O representante dos hotéis afirmou que os incrementos excessivos de preços já estão sendo revertidos conforme o acúmulo de quartos não ocupados.

“Existe preconceito contra Belém, contra a Amazônia”, declarou Santiago. “As pessoas pensam que a COP deve acontecer em um hotel de luxo com todas as comodidades. Isso é hipócrita. Quando se trata de clima, é preciso vir à Amazônia, ver a floresta, sentir o clima.”

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Fonte por: InfoMoney

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