Reunião entre Trump e Putin chama atenção do mercado; confira os destaques econômicos de sexta-feira (15)
Os mercados deverão se acalmar com a reunião dos líderes no Alasca. Consulte outras notícias importantes.
O esperado encontro entre Donald Trump e Vladimir Putin, marcado para hoje no Alasca, concentra a atenção do mercado na fase final da sessão, sustentando expectativas de possíveis avanços em direção a um acordo de paz na Ucrânia – ainda que um cessar-fogo imediato não esteja no horizonte (existiria resistência ucraniana aos termos russos).
Nos Estados Unidos, o Índice de Preços ao Produtor de julho divulgada ontem ultrapassou as expectativas, intensificando as preocupações com a transmissão das tarifas comerciais para a inflação e, por conseguinte, com a restrição do espaço do Federal Reserve para reduzir as taxas de juros. Neste contexto, as vendas no varejo e outros indicadores de atividade e preços assumem relevância adicional hoje para guiar a trajetória das Treasuries e do dólar, exercendo pressão sobre os ativos (inclusive brasileiros).
No cenário internacional, o mercado apresenta sinais contraditórios. A China apresentou resultados abaixo do esperado em produção industrial e vendas no varejo, aumentando as dúvidas sobre sua capacidade de impulsionar a demanda global. A Ásia registrou avanços nas bolsas, com exceção de Hong Kong, afetada por fortes quedas no setor imobiliário. O petróleo caiu devido à combinação de expectativas para o encontro entre Trump e Putin, juntamente com as preocupações sobre o fraco desempenho chinês, reforçadas pelos dados de atividade mais recentes. Nos Estados Unidos, as bolsas avançam antecipadamente à cúpula no Alasca, com pouca relevância de indicadores locais, enquanto os contratos futuros mostram desempenho variado.
Gelo fino em áreas tropicais.
No âmbito doméstico, observamos maior sensibilidade ao clima de mercado, em especial às variações do dólar americano. Inicialmente, dados de inflação ao consumidor nos EUA trouxeram alívio, impulsionando investidores e fortalecendo as expectativas de cortes de juros pelo Federal Reserve. No entanto, essa perspectiva foi parcialmente atenuada pela divulgação do índice de preços ao produtor de julho, que apresentou alta superior ao esperado. O dado reacendeu temores sobre o impacto das tarifas comerciais na inflação e gerou dúvidas sobre o rumo da política monetária americana. Essa mudança no cenário internacional se refletiu nos ativos locais: o Ibovespa fechou em declínio, enquanto o dólar avançou. Tudo isso ocorreu em meio à consolidação da temporada de resultados corporativos. Internamente, o resultado positivo do setor de serviços – crescimento de 0,3% em junho, impulsionado principalmente pelo transporte ligado ao escoamento de safras e à produção mineral – diminuiu o risco de revisão negativa para o PIB do segundo trimestre. Contudo, o dado não altera a leitura predominante de desaceleração da economia brasileira: embora registre a quinta alta mensal consecutiva e a maior expansão trimestral do ano, seis dos sete segmentos de serviços apresentaram queda. Em síntese, ainda há margem para que o corte de juros ocorra entre o final deste ano e o início de 2026. Se o Federal Reserve iniciar seu ciclo de afrouxamento monetário entre setembro e outubro, não se pode descartar a possibilidade de já vermos uma redução em dezembro, por exemplo.
Apesar desse cenário, destaca-se o bom desempenho dos ativos brasileiros em agosto, mesmo com a deterioração recente. Como tenho ressaltado, na ausência de surpresas negativas no âmbito fiscal e comercial, havia espaço para que o mercado doméstico continuasse a apresentar resultados positivos. Contudo, os últimos dias trouxeram o oposto. Inicialmente, com o anúncio de um pacote de contingenciamento para auxiliar empresas afetadas pela tarifação, medida mal recebida pelo mercado (como mencionei ontem, mais uma exceção à meta do arcabouço, acompanhada de novos contornos para medidas parafiscais, das que nascem com o rótulo de temporárias, mas acabam se tornando permanentes). Em seguida, com o tom mais agressivo adotado pelo governo brasileiro nas negociações comerciais, resgatando uma retórica de viés antiamericana (também culpada pela tarifação que experimentamos hoje). E, por fim, com as recentes declarações de Donald Trump, acusando o Brasil de tratar mal os EUA no comércio, criticando a legislação nacional e voltando a manifestar apoio ao ex-presidente Bolsonaro. Esses elementos combinados aumentam a tensão fiscal e diplomática, reduzem substancialmente a probabilidade de um avanço nas negociações comerciais no curto prazo – frustrando expectativas do próprio governo e de empresas prejudicadas – e reforçam a necessidade de vigilância quanto ao risco de uma escalada no conflito comercial.
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Navegando com tranquilidade.
Nos Estados Unidos, os principais índices acionários finalizaram a sessão de quinta-feira quase sem variações, apesar de um dado de inflação ao produtor acima do esperado, o que gerou maior cautela nas projeções para a trajetória dos juros. O S&P 500 avançou levemente, 0,03%, registrando seu 18º recorde de fechamento no ano e a terceira alta consecutiva, enquanto o Dow Jones caiu 0,2% e o Nasdaq perdeu 0,1%. Em julho, o PPI subiu 0,9% no mês e 3,3% em comparação anual, com o núcleo acelerando para 3,7%. O avanço foi impulsionado pelo setor de serviços – em especial, serviços de comércio, transporte aéreo e serviços financeiros –, mas também contou com alta nos bens básicos (+0,4%), indicando efeitos indiretos das tarifas comerciais. Atualmente, parte desse aumento de custos ainda não foi repassada ao consumidor, pois as empresas absorveram parte da pressão, mas esse cenário pode se reverter, elevando os preços ao varejo e dificultando cortes de juros pelo Federal Reserve.
A divulgação do PPI reduziu levemente as apostas de corte de 25 pontos-base pelo Fed na reunião de setembro, que passaram de quase 100% para menos de 95%, segundo o CME Group. O mercado, por vezes, tende a um preciosismo excessivo. Alterar uma data de um mês para outro, em essência, não deveria provocar grande impacto. No entanto, diante de um ambiente em que todos estão extremamente sensíveis e ansiosos, vale registrar a observação — até porque movimentos assim podem, sim, gerar volatilidade no curto prazo. Agora, as atenções se voltam para o Simpósio de Jackson Hole, na semana que vem, quando Jerome Powell deverá apresentar sua visão para a economia, e para os próximos indicadores-chave — como mercado de trabalho e inflação — que serão determinantes para as decisões de política monetária. Antes do encontro de 17 de setembro, haverá ainda mais um conjunto relevante de dados de emprego e preços. No curto prazo, a expectativa é de que o mercado reaja de forma mais volátil às divulgações, especialmente em um contexto de valuations elevados. Entre os números de hoje, destacam-se as vendas no varejo de julho, com projeção de alta de 0,5% na base mensal (0,3% excluindo automóveis), e o índice de Sentimento do Consumidor da Universidade de Michigan para agosto, com consenso em 61,7. Além disso, o comportamento dos preços de importação será monitorado de perto: quedas mais acentuadas que a tendência e superiores às observadas em outras regiões indicariam capacidade dos importadores americanos de mitigar o impacto das tarifas comerciais sobre o consumidor.
Estatismo?
O governo Trump avalia a aquisição de participação acionária na Intel. As informações indicam que os planos são incertos, mas a negociação envolveria o governo dos EUA assumindo parte do capital da fabricante de chips, visando a viabilização da construção de uma fábrica aguardada em Ohio. Essa possível intervenção segue o padrão de atuação recente da Casa Branca na intermediação de acordos estratégicos para o setor, como na posse de participação na Nippon Steel sobre a US Steel e, mais recentemente, no acordo que garante aos EUA 15% da receita da Nvidia proveniente das vendas do chip H20 para a China.
A concretização do acordo dependeria da permanência de Lip-Bu Tan como CEO da Intel. Caso se confirme, o movimento fortalecer o plano de Washington de aumentar o controle e a influência sobre setores considerados essenciais para a segurança nacional e a competitividade tecnológica americana, em meio à intensa disputa global pela liderança na produção de semicondutores. Contudo, a estratégia demonstra uma face intervencionista estatal incompatível com um modelo econômico de mercado dinâmico e inovador como o dos Estados Unidos, remetendo a práticas ultrapassadas observadas na América Latina na segunda metade do século passado – embora, aparentemente, seja o jogo que o governo americano atual decidiu empreender.
03:25 – Explosão de fábricas
Nos últimos anos, diversas economias avançadas — com destaque para os EUA e o Reino Unido — vivenciaram um expressivo ciclo de expansão na construção de fábricas. O aumento do porte dessas instalações sugere que uma fatia cada vez maior da produção manufatureira está sendo concentrada nessas novas plantas. Curiosamente, países que nas últimas décadas tiveram um nível limitado de investimento nesse tipo de infraestrutura agora se destacam como os mais propensos a direcionar capital para o setor. No entanto, essa evolução não tem se traduzido em crescimento significativo do emprego industrial, o que indica que grande parte desses recursos está sendo aplicada para substituir mão de obra por capital, em vez de gerar novos postos de trabalho. Ainda assim, o movimento sinaliza um reposicionamento estratégico das cadeias de produção. É a formação de uma nova dinâmica global.
Em certas situações, políticas públicas exerceram um papel decisivo, seja por meio de incentivos, seja por meio de imposição na construção de novas fábricas. Adicionalmente, observa-se um componente significativo de relocalização produtiva, impulsionado por avanços tecnológicos que tornam mais eficiente a produção próximo ao consumidor final, diminuindo custos logísticos e riscos associados a cadeias de suprimento longas e complexas. Contudo, a recente desaceleração no ritmo de construção de fábricas nos Estados Unidos serve como um lembrete relevante: mesmo tendências estruturais aparentemente sólidas podem ser enfraquecidas ou revertidas diante de mudanças repentinas ou incertezas prolongadas na condução da política econômica.
Geopolítica em ponto de congelamento.
A reunião entre Donald Trump e Vladimir Putin, agendada para esta sexta-feira (15) em uma base militar no Alasca, abordará a guerra na Ucrânia, porém sem a presença de Kiev nas negociações. A ausência ucraniana torna improvável qualquer acordo efetivo, considerando que o presidente Volodymyr Zelensky mantém a posição de não ceder territórios e insiste em participar diretamente das conversas. Da Rússia, incluem-se a entrega das regiões de Donetsk e Luhansk, que formam o Donbass, a garantia de que a Ucrânia não ingressará na OTAN e o levantamento das sanções econômicas internacionais. Caso atendidas, essas condições representariam uma vitória geopolítica expressiva para Moscou após anos de conflito. No campo militar, avanços recentes das forças russas no leste ucraniano reforçam a percepção de que Putin chega ao encontro em posição de força, confiante para negociar a partir de uma postura dominante. Antes da reunião, Trump realizou uma videoconferência com líderes europeus e com Zelensky, descrevendo a conversa como “muito boa” e defendendo que qualquer plano de paz deva começar com um cessar-fogo e incluir a participação ucraniana – ainda que alguns aliados manifestem receio de que o presidente norte-americano adote um tom mais flexível após o encontro presencial com o líder russo.
O resultado desse diálogo também pode repercutir de forma relevante sobre os mercados de energia. Nas últimas semanas, as cotações do Brent e do WTI recuaram cerca de 4%, refletindo o desequilíbrio entre oferta elevada e demanda moderada, enquanto o índice setorial de energia dos EUA caiu 1,2%. Nesse contexto, um avanço concreto em direção à paz poderia impulsionar os preços do petróleo para a faixa de US$ 60 por barril (ou menos); por outro lado, um impasse nas negociações, acompanhado de novas sanções mais severas contra Moscou, poderia levar as cotações novamente acima de US$ 70 (ou algo mais próximo de US$ 80). As restrições atualmente em vigor já limitam as exportações de petróleo russo para Europa e Estados Unidos, embora não as interrompam completamente, e Washington sinalizou a possibilidade de impor sanções secundárias à Índia caso continue adquirindo o produto russo. É importante lembrar que essa cúpula ocorre após o prazo de 8 de agosto fixado por Trump para que Putin aceitasse um cessar-fogo – ultimato que expirou sem resultado – , o que aumenta a expectativa sobre a disposição do presidente americano em adotar medidas punitivas mais duras caso as conversas não avancem.
Após o término do segundo trimestre de 2025 no Brasil, reexaminei ontem algumas ações que incluí em minhas recomendações a partir de 2023. Conforme já resaltei, a safra brasileira não foi tão expressiva quanto a dos Estados Unidos, devido às taxas de juros domésticas elevadas. No entanto, o período não foi inócuo, com várias empresas sob nossa análise apresentando resultados consistentes, apesar do cenário macroeconômico complexo, caracterizado por altos custos de capital. Algumas, inclusive, ultrapassaram as projeções do mercado, demonstrando diferenciais de execução.
Entre os destaques…
Fonte por: Empiricus